A família toda no barquinho de papel

família 1

Veja com fazer um barquinho de papel

E o menino saiu daquela tristeza e partiu com a família dos sonhos num barquinho de papel.
Kauã, 4 anos. Naquele instante passou a viver como tripulante e comandante.
O pai que diziam ser nóia, vagabundo, pra ele era só um pai. A mãe fugida dos cuidados que lhe eram necessários, com problema mental desde a infância, agora sem os rins, era a mãe dele. Estava no terceiro filho, sem intervalos. Ele e dois irmãos separados por consequência da incapacidade do pai e a debilidade da mãe estavam por aí sendo cuidados por outros.
– Você sabe fazer um barco?
– Sim sei. Pensei um pouco… Virei o pedaço de papel… Como mesmo se faz um barco? Dobrei, dobrei e saiu um barco.

barco de papel
– Você pode fazer um pai pra mim?
– Claro que sim. Tem papel por aí?
– Tem sim, essa fatura (conta pra pagar) ai na mesa, já foi paga, pode usar o papel.
Assim o pai foi sendo cortado formando a cabeça, os braços o corpo as pernas e os pés.
Você pode fazer uma mãe?
– Claro que sim.
Do mesmo modo foi feito a mãe, um irmão, o próprio Kauã e uma menina.
Ele ia cantando o nome dos tripulantes:
– meu pai… Dobrou as pernas do pai e o sentou na lateral do barco.
– minha mãe… A mãe ele a encaixou na outra borda.
Cantou o nome do irmão Gabriel e o dele como se fosse outro irmão.
– Gabriel e Kauã.
Foram acomodados pertinho uns dos outros naquele barquinho que ele empurrava e falava entusiasmado:
– O barquinho está andando!
– Não! Foi interpelado: o barco navega.
– O que é navegar?
– Navegar é assim…
E foi-lhe mostrado como é navegar. O papai anda assim … e com o boneco de papel, foi-lhe mostrado o que é caminhar o que é andar.
Ele perguntava:
– E o Artur, o meu irmãzinho? Você não fez meu irmãozinho.
Está bem, vamos fazer um irmãzinho. E lá vai eu contornar o papel e fazer um irmãozinho.
– E essa menininha aqui? Meu pai não tem uma filhinha.

– Ah, faz de conta que é sua amiguinha, você não levaria a amiguinha pra navegar no seu barquinho?
– Ta, vou levar minha amiguinha pra navegar no meu barco.
– Você sabe fazer um …
Imagine uma criança de quatro anos tentando falar helicóptero.
– O quê? Ah tá! Helicóptero.
Fiz um canudinho. Uma extremidade fechada – aperta com os dedos, torce e forma uma ponta. Na outra extremidade, rasguei tipo tiras verticais formando um penacho. Mostrei pra ele que o brinquedo sobe com a ponta pra cima e desce com a ponta pra baixo girando o penacho. Tá mais pra foguete ou uma lula do mar voadora, naquele momento era o que queríamos: um helicóptero.
– Olha! Ele voa e gira, gritou o menino.

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– Olha vó!
A vó cansada só disse: ta bom.
Ele abandonou o barco por instantes e aquele helicóptero era a grande sensação. Vez ou outra ele conversava com a família no barco e voltava para o helicóptero.
Anoiteceu e a vó impôs que estava na hora de ir pra cama. Depois de tomar banho, jantar e escovar os dentes o menino obedeceu e foi dormir.
Imagino os sonhos daquele menino depois de alguém sentar com ele e reconstruir a família dele com folhas de papel rasgado. Ele a comandar o barco.
Quando ele acordou pela manhã, a primeira coisa que procurou foi a família de papel rasgado. Logo aquela euforia foi quebrada pelo grito da avó:
– Vai pegar suas coisas que você tem que ir pra escola.
Tá bom vó, e ele foi.
Retornando da escola ele voltou correndo pro barco de papel.

Redação Helenice   e-mail helenice.alberto@gmail.com

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